miércoles, marzo 03, 2010
Bisturí, en portugués
Bisturí 1.
Desgravações da minha alma
Não quero que me chamem pelo nome
Prefiro que me tratem por você. Assim não me desgasto. Também não vou dizer o teu nome. E não pensemos no teu estado actual: destruída. Nestas bolsas existem outros nas mesmas condições. Alguns regressam. Parece arriscado mas acreditei ter reconhecido alguns cabelos. A seguir prefiro pensar que são invenções. Como eu. Nada é simples, isto não é uma frase. Vi a morte em pessoa passeando-se por aí como uma coquette no céu.
Não tomo notas. Trabalho de memória.
Dá-me uma sensação asquerosa de realidade puxar de uma esferográfica: abrir um caderninho é asqueroso. Não gosto de deixar testemunho. Se uma pessoa pensa que todas estas bolsas eram gente com família, imobiliza-se. Quando chegas, a primeira coisa que te dizem é que se solucionam como palavras cruzadas, sem psicologia. Os sentimentos por um lado e as bolsas por outro.
Gosto de me sentir parte de algo grande.
Vou atrás de um objectivo enorme. Sinto a necessidade imperiosa de modificar. Não suporto ser um elemento passivo, quero sentir que estou a participar. Quando ia à montanha tinha por hábito mudar algumas pedras de lugar. Essa subtil diferença fazia-me bem. Estive aqui, dizia-me. Não há que destruir, há que ajudar o movimento. Um objecto imóvel é uma derrota de Deus. Isto é o mesmo, mas a grande escala.
As viúvas vêm preparadas para fazer escândalo.
Abro-lhes a bolsa e mostro-lhes os pés mortos. Quando começam a duvidar, quando se dão conta de que nunca conheceram os pés, mostro-lhes o resto. Entretenho-me estudando cada forma de dor. Há dez ou doze.
Há pouco, trouxeram uma rapariguinha.
Tinha as mãos apertadas. Tive que a lavar e então percebi que estou muito doente. Não me importo de a limpar com o trapo. Depois da autópsia, como ninguém a veio reclamar, desenredei-lhe o cabelo.
Lembrei-me de mim quando era miúda. Queria trabalhar num circo. Um dia desenhei que me disparavam de um canhão e os rostos de espanto dos espectadores, vistos de cima. O meu pai riu-se e chamou-me infeliz. Observei o desenho e rasguei-o lentamente em tiras perfeitas. Graças ao meu pai sou uma profissional. Não há nada mais real que a morte.
Olho para o meu assistente e imagino-o na mesa de dissecações.
Abro a sua camisa cinzenta, corto a corrente. É sumamente peludo e correcto. Parece normal. Mas isso é impossível. Que misérias o aguardam? O seu tórax é um quadrado perfeito, atravessado por músculos tensos. Diz que está apaixonado. Canta e sempre se organiza para sorrir, mesmo que não haja motivo. Enquanto se saca uma bala de um maxilar com o bisturi manchado, não se pode ser feliz.
Traducción: ALBERTO AUGUSTO MIRANDA
Imagen: Eric Fischl
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